segunda-feira, 30 de março de 2015

A Polémica no Livro de Marcos

Marcos quer prevenir os conflitos de autoridade que fazem estragos em sua comunidade ao preservar o lugar que pertence ao grupo dos profetas.
      Marcos exorta aos membros da sua comunidade a viver em paz uns com os outros e a preferir o serviço ao domínio. O Filho do Homem morreu em resgate de muitos e aqueles que querem segui-lO têm que passar pelas mesmas situações.
      Marcos deseja que a comunidade para quem ele se dirige, não se esqueça das pessoas que têm uma função inferior, que os seus superiores não os explorem, nem restrinjam a acção dessas pessoas. O autor também deseja que a comunidade para quem escreve veja na perseguição, um modo de purificação e aproximação de Deus e que relembrem os ensinos de Jesus.
                                                                                                              
     

     

           



               


















domingo, 29 de março de 2015

A Intransigência no Livro de Marcos

Perante a ameaça de perseguição, rapidamente vemos o quanto custa ser discípulo, tendo que abnegar de todas as coisas. Com o tempo a abnegação tornou-se uma qualidade cristã, que deve ser alcançada. Marcos considera que unicamente o compromisso integral com o Cristianismo, pode permitir a sua comunidade fazer frente de forma vitoriosa à perseguição e ao martírio.

A Esperança no Livro de Marcos

Marcos ao escrever sobre a vinda eminente de Cristo, queria certamente comunicar esperança para a sua comunidade e de conservar em sua memória, a mensagem escatológica, formando e preparando a comunidade para as tribulações vindouras.

sábado, 28 de março de 2015

O Evangelho, um Manual para a Comunidade

O fervor do cristianismo, com o passar do tempo e com o surgimento de movimentos reaccionários contra o cristianismo, ocasionou o desânimo espiritual da comunidade. O sabor carismático, a liberdade e a acessibilidade das manifestações e as revelações espirituais, a acolhida dos pequenos, assim como a intransigência do compromisso no seguir a Cristo. São alguns elementos que permanecem vinculados no livro de Marcos.
      Marcos edifica uma comunidade, mediante diversos relatos e ensinos tomadas da vida de Jesus, proporcionando esperança, para resistir a perseguição e aponta para um futuro escatológico, em que sua comunidade tomará parte, se resiste até então.
            

Evangelho Destinado aos Gentios

O livro destina-se aos cristãos-gentios, que não são israelitas, porque contém poucas referências às profecias do Antigo Testamento e explica palavras e costumes judaicos.
De acordo com os estudiosos modernos, o livro de Marcos foi composto em uma comunidade oriental de gentios, porque trata de assuntos relacionados com a dissolvição do casamento por parte da esposa e também, porque ele só leva em consideração a situação legal romana, não mencionando a situação legal grega, o seu objectivo é buscar a legitimidade e a estabilidade entre as tradições existentes.
A data da composição do livro de Marcos, é difícil de determinar, uma origem muito antiga, é muito improvável, porque a evolução da tradição evangélica, já se encontrava muito desenvolvida. Por não haver uma clara referência a destruição de Jerusalém no ano 70 dC. A maioria dos estudiosos, situam a data do livro entre os anos 64 e 70 dC.
A comunidade a quem Marcos se dirige, não está livre de sofrer perseguições, o medo de sofrer impede muitas pessoas de comprometerem-se inteiramente com o Evangelho. Através do relato que Jesus andou sobre as águas, Marcos cria uma aplicação muito pessoal para a comunidade a quem escreve. Os discípulos simbolizam a comunidade de crentes, que está em perigo, os ventos contrários simbolizam os problemas que os crentes têm que enfrentar, Jesus parece estar ausente, quando por fim aparece e acalma a tempestade, Ele nos mostra que está atento e que cuida das pequenas comunidades de crentes
Acredita-se que o livro de Marcos tenha sido escrito na Ásia Menor, onde estava muito difundida a devoção aos “deuses curandeiros”, que se dedicavam a fazer milagres, as comunidades cristãs daquelas regiões, inclinavam-se a ver em Jesus, o verdadeiro realizador de milagres, que havia de contrapor a devoção pagã.
As lições de Jesus, embora fossem dirigidas aos discípulos, apontavam também para a comunidade a que Marcos se dirigia.
O chamamento dos discípulos, pretende ser um exemplo concreto de conversão. Não se trata de uma conversão que se lhes proponha ser especialistas do Reino de Deus, mas simplesmente, da conversão necessária para nos tornarmos cristãos.
Seguir Jesus significa percorrer o caminho que Ele percorreu, realizar suas obras. Cristo estende o convite de segui-Lo a todas as pessoas, justos e pecadores.

Seguir a Jesus é acima de tudo, concretizar em menor escala o que Ele fez por toda a Humanidade: servir, dar a nossa vida em rendição ao próximo, só com o intuito de ajudá-lo.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Diversas Teorias sobre o Evangelho de Marcos

Existem muitas teorias sobre as características do livro de Marcos e do seu objectivo teológico:
·         K. L. Schmidt acha que o livro de Marcos está baseado em unidades dispersas da tradição.
·         D. F. Robinson, postula que o livro de Marcos, é um resumo de Mateus e Lucas e que provavelmente, Marcos trabalhava com Mateus e era seu resumidor.

·         W. Knox, admite que o livro de Marcos está baseado em fontes fragmentadas.

·         Parker, acredita que Marcos reelaborou um escrito judeu-cristão.

·         Tübingen, pensa que Marcos está sob influência, da teologia Paulina, porém Werner provou, que Marcos dependia mais da tradição gentio--cristã.

·              Alguns manuscritos acrescentam a esse evangelho, um texto suplementar, com relatos que se encontram nos outros evangelhos, nomeadamente algumas aparições de Jesus ressuscitado e a sua ascensão, para alguns estudiosos, segundo a tradição textual, o livro de Marcos terminaria no versículo 8 do capítulo 16 e já está ampliado. Alguns pensam que a aparição do ressuscitado na Galileia, predita em Marcos 14:28 e Marcos 16:7, podia perfeitamente ter sido relatada. Até os nossos dias, ninguém foi capaz de esclarecer como se teria perdido o final presumível do original.

·      Antes do livro de Marcos ser escrito, havia várias colecções de parábolas e frases ditas por Jesus e de seus milagres, alguns estudiosos acreditam, que Marcos se baseou em nove fragmentos, deste modo podia-se correr o risco de ter apenas uma única interpretação. Algumas comunidades judia-cristãs, elaboraram uma colecção de palavras ou frases de Jesus, que mais tarde influenciaria Mateus e Lucas.  

·   A evidência dos manuscritos, não deixa lugar para outra suposição, senão a de que Marcos circulou desde o início, com o final resumido, ou seja, finalizando na passagem 16:8, podemos reconhecer a inevitável sensação de que o livro de Marcos, não poderia ter terminado na passagem de Marcos 16:8. Mateus e Lucas, podem ter tido esta mesma sensação do livro estar incompleto No original, o versículo 8 terminaria com
a conjunção gár, esta possibilidade estilística, demonstra um medo significativo com relação a mensagem da ressurreição. Após muitas pesquisas, os estudiosos chegaram a conclusão que Marcos quis realmente terminar sua obra na passagem 16:8



quinta-feira, 26 de março de 2015

Constituição do Livro de Marcos

O livro de Marcos pode ser dividido em seis partes:

Parte I: Eventos introdutórios e preliminares, que conduzem ao ministério público de Cristo. 1:1-13.
      No primeiro capítulo, Marcos se submerge abruptamente neste tema.
      Começa com o anúncio de que Jesus é o Filho de Deus (v.1). Ele então passa às cinco etapas preparatórias de sua obra:
·         A vinda do seu precursor (vv. 2-8)
·         Seu baptismo em água (v. 9)
·         Sua plenitude do poder do Espírito (v. 10)
·         O testemunho divino da sua condição de Filho (v. 11)
·         O conflito com seu arquiinimigo (vv. 12 e 13)

       Parte II: Seu ministério inicial na Galileia 1:14-7:23
            Marcos omite inteiramente o ministério inicial na Judeia (João 2:13-4:2)
      Parte III: O ocorrido em Tiro e Sidom 7:24-30
      Parte IV: Ensino e obra de Cristo ao norte da Galileia (7:31-9:50)
      Parte V: O ministério final na Pérsia e a viagem à Jerusalém 10:1-52

      Parte VI: Os acontecimentos da semana da Paixão 11:1-16:8

quarta-feira, 25 de março de 2015

Particularidades do Livro de Marcos

O livro de Marcos é o mais curto dos quatro evangelhos, embora só tenha dois terços da extensão de Mateus, registra a maior parte dos incidentes. Grande parte do tema está também em Mateus e Lucas, mas não se trata de simples repetição, seu estilo é forte e incisivo e frequentemente fornece-nos detalhes significativos, que não mencionam os outros evangelhos. Marcos registra quase todos os milagres que mencionam os outros Evangelhos sinópticos. O livro de Marcos transmite uma certa urgência, pois o autor utiliza mais frequentemente a palavra “logo”[1], “de seguida”, “imediatamente”[2], do que os outros evangelistas juntos.
Apesar do livro de Marcos transmitir uma certa urgência, ele substitui a expectativa eminente da volta de Jesus, por uma proximidade do fim, não sujeita a cálculos.
Marcos relata a vida de Cristo em ordem cronológica e não por tópicos, como faz Mateus. Sua ênfase nos milagres, assinala claramente seu propósito
Como o Evangelho de João, Marcos também começa com uma declaração da divindade de Jesus Cristo, sem contudo, estender-se nesta doutrina.





[1] Marcos 1:10; 18:20,21e29
[2] Marcos 1:30,41e42

terça-feira, 24 de março de 2015

Tema Principal do Livro de Marcos

O Evangelho de Marcos apresenta Jesus em contínua actividade, dando maior ênfase a seus actos do que as suas palavras, colocando relevo a sua autoridade, tanto no chamamento dos discípulos como no ensino às multidões e na cura dos doentes.
Marcos enfatiza em seus escritos o essencial do Evangelho, começando o seu livro já no início do ministério de Jesus, enfatizando também a incredulidade dos judeus e dos líderes judaicos e a aceitação por parte dos gentios. Marcos defende Jesus das acusações feitas pelos judeus.
Para Marcos, Jesus esconde a sua divindade, pois Jesus não se identifica como Deus, a sua divindade é mostrada através dos milagres que operou e dos próprios demónios que o identificam como sendo Filho de Deus.




segunda-feira, 23 de março de 2015

Marcos - Autor

O autor guia o leitor, a ter uma visão panorâmica, desde o início do relato, o narrador sabe perfeitamente quem é Jesus, conta ao leitor o que está por trás das aparências, enquanto que as pessoas que estavam presentes, só conseguiam captar a sua identidade e terão que aguardar pelo desenvolvimento da história, até a Cruz, para verem que Jesus era o Filho de Deus               
O livro de Marcos não identifica o seu autor, mas todas as evidências levam a crer, que o autor do livro é João Marcos, que além de ser um nome próprio, neste caso era seu apelido[1]. Era sobrinho de Barnabé. No lar de Marcos existia um aposento, que por um tempo foi ocupado por alguns apóstolos depois da ressurreição e ascensão de Jesus[2], neste lugar reuniam-se os primeiros cristãos[3]. Marcos acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária dos apóstolos[4], em outra viagem posterior, Marcos acompanhou Barnabé à Ilha de Chipre. Alguns escritores acreditam que Marcos trabalhou posteriormente com Pedro[5], como intérprete, escrevendo totalmente de memória, as palavras de Pedro, no entanto, não expunha ordenadamente os actos e palavras do Senhor. Pois ele nunca havia ouvido nem seguido Jesus, só pregava o Evangelho para utilidade dos ouvintes, não para descrever uma história dos discursos de Cristo, o seu único objectivo era não omitir o que tinha ouvido e não acrescentar dados falsos.
O facto de que este Evangelho tenha o nome de uma pessoa pouco destacada como Marcos, é uma evidência de sua autenticidade e de que ele é o verdadeiro autor.




[1] Actos dos Apóstolos 12:12 e 25                                                                               
[2] João 20:19 e Actos dos Apóstolos 1:13
[3] Actos dos Apóstolos12:12
[4] Actos dos Apóstolos 13:5
[5] I Pedro 5:13

domingo, 22 de março de 2015

Livro de Marcos

O livro de Marcos inicia-se com a palavra “começo”, portanto, na sua mente existe a ideia de um desenvolvimento, recorre a ilustração da semente, que se converte em uma árvore frondosa com frutos, o autor compara o processo de germinação com o estabelecimento do reino de Deus, que não se estabeleceu repentinamente, o Messias foi gerado por uma mulher, nasceu e cresceu como qualquer ser humano e a altura em que está no seu apogeu, (a árvore frondosa e com frutos) é justamente na Cruz.
Quando o Espírito Santo desce sobre Jesus e a voz do Pai se faz ouvir, é um testemunho da eleição de Deus, é estabelecido como profeta, isso proporciona o estabelecimento da Sua messianidade.


sábado, 21 de março de 2015

Críticas Textuais

Existem três tipos de crítica textual: a crítica verbal, a crítica externa e a crítica interna.
                                           
1. Crítica Verbal


            Tenta eliminar ou corrigir os erros dos escribas, em relação a enganar-se em alguma letra, pois em Hebraico as letras são muito parecidas e existe uma grande possibilidade de erro.
Existe a haplografia, que consiste na cópia única de uma letra, quando deveria ser copiada duas vezes. E a dittografia, que consiste na repetição de letras por engano.


2. Crítica Externa


            A crítica externa consiste em comparar a qualidade, avaliar a fiabilidade de uma leitura variante de um manuscrito.


3. Crítica Interna


A crítica interna tenta calcular o valor respectivo das diferentes variantes, apoiando-se em critérios de estilo, de coerência e inclusive doutrinal para eliminar as modificações secundárias e propor o texto mais próximo possível da origem.





           



O Fechamento do Cânon no Judaísmo sem Templo

Em finais do século I dC o carácter canónico dos livros bíblicos já estava definido, segundo fontes judaicas e cristãs, os únicos livros cujo carácter canónico é desconhecido, são os livros de Rute, Cantares de Salomão e Ester.
            O carácter sagrado do livro Cantares de Salomão, foi colocado em causa, devido a sua utilização em festas profanas, e não contra a sua canonicidade.
            A autorização de canonicidade do livro de Ester foi adquirida, mediante o facto do autor ter conhecimentos proféticos, embora não fosse um profeta. Os fariseus decidiram não admitir como canónicos os livros que fossem escritos em uma época posterior a época de Simão, o Justo. Apesar de ser um livro de difícil aceitação canónica, era considerado por algumas escolas rabínicas como tendo autoridade, devido ao aparecimento de exemplares do texto em Hebraico deste livro em Qúmram e em Masada. No Talmud da Babilónia, citam o livro de Ester, reconhecendo o seu carácter canónico.
            Os livros apócrifos foram excluídos do cânon no sínodo de Yabneh. Pode-se afirmar também que o cânon bíblico, foi determinado em Yabneh, por uma decisão formal e oficial das autoridades judaicas.
            Em Yabneh, fizeram a primeira tentativa por declarar canónicos os livros de Cantares de Salomão e Eclesiastes. O cânon estabeleceu-se em função das necessidades práticas dos serviços religiosos. Com o passar do tempo, o livro canónico foi sendo mais utilizado nas sinagogas, com a mesma autoridade que era usado no Templo.
            No ano 150 dC, para que os escritos do Novo Testamento não fossem reconhecidos como sagrados, os rabinos proibiram o jejum no Domingo, a leitura diária do Decálogo, que precedia a leitura do Shema e acrescentaram na oração realizada na sinagoga, a maldição contra os Minîm, que diz: “ Que não existia esperança alguma para os apóstatas… que os Nazarenos e os heréticos desapareçam rapidamente.”







sexta-feira, 20 de março de 2015

O Cânon Correspondente ao Templo da Época Herodiana

Segundo Flávio Josefo no ano 18, Herodes decidiu ampliar a esplanada e construir um templo segundo o estilo cesáreo.
            As áreas destinadas à construção, não estavam afectadas pelas leis de pureza. Era necessário assinalar com precisão os limites entre o espaço sagrado primitivo e as zonas acrescentadas por Herodes.
            As Escrituras permitem-nos conhecer a posição de algumas correntes judaicas em relação ao cânon bíblico, através de diversas fontes. Os escritos do Mar Morto prova-nos a extensão do cânon entre os essenios, as obras de Filon mostra-nos a profundidade de conhecimento acerca das Escrituras, que as pessoas das zonas gregas tinham.
            Os escritos do Novo Testamento permitem-nos saber qual era o cânon veterotestamentário dos primeiros cristãos de origem judia. Fontes históricas transmitem-nos informações sobre os livros inspirados, que pertenciam ao cânon judeu.
            Em inícios do século I dC os rabinos da Palestina, revisaram o texto grego de alguns livros bíblicos, pois o texto grego continha muitas diferenças com relação ao texto hebraico. Os livros que foram revisados foram os livros de Josué e Reis, que pertencem a secção dos Profetas anteriores, o livro de Isaías e Ezequiel, que pertenciam aos Profetas posteriores, o livro de Juízes, os livros de Samuel, as partes acrescentadas no livro de Jeremias, Salmos e os livros dos Profetas Menores, cujo texto foi justamente encontrado na cova de Nahal Hever, próximo do Mar Morto.
            Existem alguns livros, nomeadamente o de Ester, Tobias e Eclesiástico, que não foram alvo de revisão. A versão grega de Ester contém muitas diferenças do original hebraico. Os livros de Tobias e Eclesiástico, foram somente inseridos no cânon grego e de igual forma, não despertou o interesse dos rabinos em revisar estes livros.
            Os rabinos responsáveis por reverem os livros, tinham como referência o cânon de livros sagrados coincidentes com o posterior cânon rabínico, neste cânon, não estão inseridos o livro de Ester e Eclesiastes. O livro de Ester já era conhecido pelos judeus helénicos, o livro de Eclesiastes foi traduzido tempos mais tarde, após o rabinismo ser favorável a sua canonização. O cânon de 22 livros, que não inclui o livro de Qohelet e Ester, constituem seguramente a forma mais antiga e original do cânon bíblico.



quinta-feira, 19 de março de 2015

O Cânon Correspondente ao Templo da Época Macabéia

I Macabeus descreve os primeiros trabalhos de construção do Templo de Jerusalém e a Mishná. Este era o espaço sagrado, que nenhuma pessoa ritualmente impura tinha acesso. Os nomes das portas da esplanada, têm origem na Mishná. As obras realizadas na época macabéia delimitaram o espaço do templo, as reformas feitas por Herodes, não influenciaram muito na verdadeira área de construção do templo.
            O espaço literário canónico, estabeleceu-se na época macabéia, embora até o ano 70 dC alguns grupos judeus, tentaram ampliar o cânon bíblico.
            No século II aC, já existia uma colecção dos livros proféticos. O prólogo do livro de Daniel, foi escrito por Ben Sira, que menciona a Lei e os Profetas e os restantes livros. A colecção de livros proféticos estava composta pelos livros de: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze Profetas Menores, segundo esta ordem, tal como aparece citado em Eclo 48 a 49.
            Deste modo no século II aC, os judeus reconheciam em geral um cânon formado pela Torá, pela Lei e os Profetas e os Escritos.

                                                                                        

terça-feira, 17 de março de 2015

O Cânon do Primeiro Templo até a Época Babilónica

No antigo Oriente existia uma certa ideia de canonicidade, aplicável a textos que se supunham haverem sido enviados desde os céus, eram transmitidos com fidelidade, estavam guardados em lugares sagrados. O conceito de canonicidade acompanha desde um princípio, o processo de formação do Antigo Testamento, não se há de pensar que a ideia do cânon não surgiu até os momentos finais deste processo[1]


            A história do cânon bíblico começa com a descoberta do livro de Deuteronómio, no Templo de Jerusalém, que foi proclamado como lei fundamental do povo, em finais do período do Primeiro Templo.





[1] VASHOLZ, R. I., The Old Testament Canon in The Old Testament Church. The Internal Rationale for Old Testament Canonicity, New York-Ontario, 1990, p. 186

segunda-feira, 16 de março de 2015

História da Formação do Cânon Bíblico

A formação da Bíblia e do cânon bíblico, está muito relacionado com o templo, pois as Escrituras ficavam no templo, se o templo desaparece, as Escrituras também desaparecem, segundo a demonstração do livro de Macabeus (1:18 a 2:18) e IV de Esdras (cap.14).
            No momento adequado, Deus inspira as pessoas a fazer o que é correcto de modo a que os conteúdos dos livros sejam idênticos, mesmo que tenham sido escritos em épocas diferentes.
            Os momentos mais assinalados, sobre a história paralela entre o Templo e as Escrituras são três: nos tempos de Josias, em que se descobre no templo o livro do proto Deuteronómio, na altura que Neemias volta do exílio, reconstrói o templo e recolhe os livros referentes aos reis, os escritos dos profetas e de David, as cartas dos reis sobre as ofertas.
            Após a profanação do templo e antes da sua reconsagração, Judas Macabeo recolhe “ todos os livros dispersos a causa da guerra”. (II Macabeus 2:13 e 14).
            Os estudiosos dividem a história bíblica em dois grandes períodos: o período do primeiro templo e o período do segundo templo. O período do primeiro templo decorre entre a construção do templo, na época de Salomão e sua destruição pelos babilónicos no ano 587 aC. O período do segundo templo inicia-se com a reconstrução do templo nos anos 520 a 515 aC, no tempo de Zorobabel e a segunda destruição do templo pelos romanos em 70 dC.
            Na época macabéia, o livro sagrado tomou quase um formato definitivo do que haveria de ser o cânon bíblico. Durante o período herodiano, certas correntes judaicas tinham tendências a ampliar o cânon bíblico, dando um novo significado ao templo e as Escrituras, segundo as novas revelações, que estes grupos queriam acrescentar ao cânon bíblico.
Os especialistas revela-nos, que as Escrituras são o meio em que Deus mostra-   -nos a Sua vontade para a Humanidade, pois Deus usou pessoas que escreveram sob Sua influência, portanto, nada que foi escrito escapa a decisão do querer divino.




domingo, 15 de março de 2015

Teoria Tradicional Sobre a História do Cânon

O cânon do Antigo Testamento divide-se em três partes: a Torá, os Profetas e os Escritos. A Torá foi considerada canónica no século V aC. Após muitas investigações, os livros dos profetas foram considerados canónicos no ano 200 e os Escritos só foram considerados canónicos em meados do século II. Alguns estudiosos pensam que foi no sínodo de Yabneh que se fechou definitivamente o cânon, com a exclusão dos livros apócrifos. Outros especialistas supõem que a canonização dos livros proféticos teve lugar com a cisma samaritana, dado que os samaritanos não reconheciam o valor canónico dos livros proféticos, apenas da Torá.
            Hoje sabe-se, que a canonização dos livros proféticos, não está relacionada com a cisma samaritana, que este acontecimento ocorreu na época helenística e não na época persa.
            Na altura do sínodo de Yabneh resolveram-se outras questões sobre a canonicidade de outros livros como por exemplo: Ezequiel, Provérbios, Cantares de Salomão e Ester. O fechamento do cânon de Yabneh, pertenceu ao programa de reconstrução do judaísmo depois da queda de Jerusalém, como consequência da polémica contra os cristãos, ou parte do trabalho de fixação do texto consonântico hebreu.
            No sínodo de Yabneh, não se conseguiu estabelecer um acordo entre a academia de rabinos e os concílios cristãos, então limitaram-se a questionar       a totalidade do cânon e do carácter sagrado do livro de Eclesiastes e possivelmente também de Cantares de Salomão.


A formação do cânon não era uma questão colocada em sínodos, estes não faziam mais que sancionar o já estabelecido por uma longa tradição. No cristianismo a discussão sobre o cânon não chegou a colocar-se, até uma época muito tardia, quando o conteúdo fundamental do cânon já estava subscrito por uma longa tradição.
Por muito tempo se pensou que junto ao cânon rabínico palestino, existia um segundo cânon difundido na diáspora judia, particularmente em Alexandria. Este cânon mais amplo antes que em torno ao ano 90 se estabelecera definitivamente o cânon rabínico, mais breve.


sábado, 14 de março de 2015

Critérios de Canonicidade do Cânon Neotestamentário

Os três critérios básicos são: a origem apostólica, o uso tradicional e o carácter ortodoxo. A canonicidade tanto do Novo como do Antigo Testamentos, não tiveram um critério rígido por onde pudessem orientar-se, porque a tradição tinha uma grande influência, no momento de fazer-se decisões importantes.

Processo de Canonização do Cânon Veterotestamentário

O cânon veterotestamentário foi guiado pelos critérios de autoridade e antiguidade, reconhecendo o carácter sagrado daqueles livros, podia-se encontrar a sua origem e a época em que foi escrito, que teria que ter sido antes em que a cadeia sucessória dos profetas tornou-se definitiva, no reinado do rei Ataxerxes. Os livros canónicos teriam que ser escritos antes desta data.


Os essenios de Qúmram tinham um critério mais amplo de canonicidade. Consideravam que a inspiração profética não havia terminado com Malaquias. Novos livros apresentaram-se com novas revelações. O livro de Enoque, pseudo-epígrafo, contém novas revelações ‘ segundo o que me foi mostrado em uma visão celestial, e o que sei pela palavra do santo anjo e aprendi das tábuas celestes’ (81:2 e 103:2 e 3)[1]


O término leva implícita a distinção entre os livros inspirados e não inspirados, autorizados e não autorizados. Esta distinção é muito difícil de aplicar no caso de livros como os de Tobias, Sabedoria, Ben-Sira, Enoque, Jubileus e alguns escritos de Qúmram.[2]


A literatura religiosa desprovida de limites demarcados, torna-se vaga, mas expressa melhor a realidade, que o término “cânon”, que segundo Beckwith, é aplicado a uma colecção já estabelecida na época macabéia.
Nas discussões rabínicas sobre o carácter inspirado de um livro entravam considerações tais como, o possível carácter secular do livro em questão, e as possíveis contradições de um livro determinado, a respeito das leis contidas na Torá. Os diferentes modos de harmonizar passagens bíblicas contraditórias, conduziram à formação de diferentes escolas de interpretação e foram um elemento acrescentado na progressiva diferenciação entre as grandes escolas de saduceus, fariseus e essenios. A literatura rabínica posterior tratou de resolver toda a contradição entre os textos que integram o cânon.
            Os numerosos intentos para resolver dúvidas acerca de contradições bíblicas, demonstram que o carácter canónico destes livros, não era posto em causa, pois pelo contrário, não fariam tantos esforços.




[1] TREBOLLE, J. La Bíblia Judia y la Bíblia Cristiana,Madrid, Trotta, 1993 p. 167
[2] TREBOLLE, J.Op. Cit, Madrid, Trotta, 1993 p. 167

sexta-feira, 13 de março de 2015

Conceito e Critérios de “Canonicidade”

Leiman referindo-se a Bíblia, distingue os conceitos do livro canónico, ou autorizado pela sua utilização no ensino, na prática religiosa, e de livro “inspirado”, que se supunha composto por inspiração divina.


Por definição um livro canónico, não necessitava ser um livro inspirado; um livro inspirado devia ser considerado como canónico, e um livro podia ser canónico e inspirado ao mesmo tempo, mas nem todos os livros canónicos eram considerados inspirados.[1]


No século II aC surgiu o conceito de livro canónico que não era inspirado. Para os autores bíblicos era desconhecido o conceito de canonicidade, eles conheciam o conceito de literatura inspirada devido aos profetas que escreviam seus livros.
Para o judaísmo os livros canónicos têm autoridade para guiar o povo na prática e ensino religioso, ao longo de todas as gerações. Embora não tenham o mesmo grau de importância a Mishná e o Talmud, também servem de orientação para o povo judeu.






[1] LEIMAN, S.Z., The Canonization of Hebrew Scripture: The Talmudic and Midrashic Evidence, Hamden, Connectcut, 1976, p. 117

quinta-feira, 12 de março de 2015

Cânon Neotestamentário

O Antigo Testamento foi a Bíblia da igreja primitiva. Entre os cristãos que falavam Grego, a Bíblia deles é a Septuaginta. Ainda depois dos seguidores se separarem do judaísmo, usaram os escritos do Antigo Testamento como possuindo autoridade.
                                                                                 

Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido[1]

           
            Jesus considerou sua vida e missão como um cumprimento das promessas e profecias contidas no Antigo Testamento. As epístolas mostram que os primeiros cristãos aceitavam o Antigo Testamento como Palavra inspirada de Deus e cheia de autoridade.


Todos os dias estava convosco ensinando no templo e não me prendestes, mas isto é para que as Escrituras se cumpram.[2]


            Dentro de Israel, um factor preponderante para confirmar tudo que os apóstolos diziam, era mencionar as palavras ditas por Jesus, mesmo entre os gentios algumas vezes eram mencionadas as palavras de Jesus, mas nem sempre eram bem aceitas as palavras de Jesus, devido a não estarem familiarizados com a cultura judia, as palavras de Jesus, não tinham o mesmo impacto, que tinham em Israel. A necessidade de escrever os Evangelhos surgiu com a expansão do Evangelho entre os gentios, para que a mensagem e os feitos de Jesus, não fossem esquecidos e pudessem entender melhor a cultura judia.
            Se desconhece a data exacta que os Evangelhos foram escritos, pensa-se que foram escritos antes da década de 60 do século I dC. No início do século II reuniram os quatro Evangelhos e os publicaram juntos.
            Taciano tinha como propósito criar um só evangelho com as partes mais importantes de cada livro.
            Clemente certa vez comunicou que Paulo era uma pessoa inspirada pelo Espírito Santo, esta referência deuterocanónica indica que a epístola de I Coríntios era conhecida não só em Corinto, mas em Roma também. As cartas de Paulo também foram traduzidas ao latim.
            Em meados do século II existiam duas grandes colecções de documentos cristãos os Evangelhos e as Cartas de Paulo. Quando os quatro Evangelhos se converteram em uma única unidade, separaram-se o livro de Actos dos Apóstolos do livro de Lucas, porém continuaram compartindo a mesma autoridade. Ambos os livros constituem o núcleo do Novo Testamento.
            As cartas de Paulo serviram de exemplo literário para a criação das outras sete epístolas: Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João e Judas. Estas epístolas foram gradualmente sendo adicionadas ao cânon. O livro de Apocalipse criou a sua própria categoria, pois o escritor era consciente de ser um profeta e que suas mensagens eram um produto da revelação divina, apesar de ter em seu interior cartas às sete igrejas da Ásia Menor. Por ser uma revelação divina devia ler-se em público na igreja, apesar disso não foi aceitado como livro canónico, somente alguns anos mais tarde. Com o aparecimento de Marção e outros, o processo de canonização foi rapidamente estabelecido, devido as alterações que tentavam adicionar no cânon, porque rejeitavam o Antigo Testamento. Marção criou o seu próprio cânon constituído por Lucas e dez epístolas de Paulo, excluindo as epístolas pastorais e Actos dos Apóstolos e adicionou o Tratado Antithesis, porém logo o destruiu.
            O cânon neotestamentário está relacionado com polémicas antiheréticas. Montano pretendia introduzir seus próprios livros e suas próprias revelações. Os problemas que determinaram a constituição do cânon são muito diferentes aos que interviram no processo da formação da Bíblia hebraica. O cristianismo teve de estabelecer um cânon pelo simples facto de que outros livros pretendiam tomar o lugar dos Evangelhos. A canonização da Torá na época de Esdras não esteve motivada por nenhuma destas razões. O cristianismo por estar em contacto com o helenismo sofreu influência de outras teorias. O estudo do rolo do Templo e de outros escritos achados em Qúmram supõe, no entanto, a possibilidade da existência de Tôrôt alternativas ou complementarias, as rivalidades entre a ortodoxia e a heterodoxia encontraram pleno desenvolvimento e harmonia no cristianismo. No judaísmo existiam também muitas “heresias”, então os rabinos resolveram estabelecer um cânon definitivo para não correrem o risco de sofrerem alterações nas suas doutrinas
A igreja cristã primitiva estava completamente convencida de que o Antigo Testamento pertencia às Escrituras cristãs, que havia quatro evangelhos e não somente um, que existiam treze epístolas de Paulo e não dez e que se deviam incluir as outras epístolas.
            A lista mais antiga que chegou até os nossos dias dos livros do Novo Testamento aceitados pela igreja primitiva está contida no Fragmento Muratoriano, um extracto mutilado de um cânon romano (c 180). Não só apresenta uma lista de livros, mas também contém afirmações com respeito a autoria, os destinatários, a ocasião e os propósitos de cada um.
            Hoje existem importantes códices de papiros que datam do século III, que contêm grandes porções do Novo Testamento: P45, que data da primeira metade do séc III, existem trinta folhas de duzentos e vinte originais dos quatro Evangelhos e Actos dos Apóstolos. O P46 tem oitenta e quatro folhas de um original de cento e quatro folhas de dez epístolas de Paulo (incluindo Hebreus). P47 com dez folhas do Apocalipse. Um códice de papiro P66 de João, P72 de I Pedro, II Pedro e Judas, P 75 com trechos pertencentes ao livro de Lucas e João.[3]








[1] Mateus 5:17 e 18
[2] Marcos 14:49
[3] S.N Dicionário Adventista do Sétimo Dia, p. 199 – 206

quarta-feira, 11 de março de 2015

A Ideia do Cânon entre os Judeus Palestinianos

Os judeus tinham uma ideia preconcebida do cânon, que definiria a natureza dos livros que deviam ser contados entre os livros santos. A ideia de cânon era de natureza essencialmente religioso-legal não foi somente a inspiração que determinou o lugar da Lei, porque os livros dos profetas também eram considerados livros inspirados. A Lei dada no Monte Sinai, que foi aceita pelo povo através de uma solene aliança, é que deve regular a fé e a vida em Israel. Não só como uma estrutura jurídica, mas também uma confissão de fé.

            

terça-feira, 10 de março de 2015

Estabelecimento do Cânon Veterotestamentário

O cânon veterotestamentário foi o resultado de um longo processo, para delimitar as linhas principais do judaísmo, frente a correntes de pensamentos restritivas dos samaritanos, dos saduceus, alguns grupos apocalípticos da Palestina e o grupo judeu-helenístico, o cânon veterotestamentário marcou também uma divisão entre judeus e cristãos, mostrando aos judeus dispostos a aceitar os novos livros dos cristãos, que não poderiam continuar considerando-se nem ser considerados como pertencendo ao povo de Israel, pois eram considerados um grupo à parte.


segunda-feira, 9 de março de 2015

Processo de Canonização

O processo de canonização é sempre realizado por uma entidade religiosa. É um fenómeno histórico de carácter social, condicionado por diversas circunstâncias. O processo histórico de determinados livros, adquire carácter sagrado e reconhecimento canónico com o passar do tempo, sendo influenciado por factores literários, sociais e teológico. A noção de cânon concretiza-se com a compilação dos livros que integram os Escritos.
            A infabilidade do texto bíblico encontra-se no texto original, pois a mensagem foi dada por Deus, uma confirmação deste facto é que alguns profetas, não entenderam as visões que tinham recebido.
            Os erros que possam ter surgido foram ocasionados pelos copistas, mas esses erros não interfiriram na mensagem que Deus queria passar para o Seu povo. Se Deus não protegesse a fidelidade do texto, a mensagem da Bíblia, com o passar do tempo ficaria completamente alterada.
            Mt 5:18, João 10:35, II Tm 3:16, Hb 1: 1 e 2, I pe 1: 10 e 11, IIPe 1:21, mostram a origem da inspiração bíblica, a sua infabilidade e autoridade. Sem o Antigo Testamento, o Novo Testamento não tem bases e tudo que aconteceu no Novo Testamento, não tem razão de existir. Jesus baseava-se no Antigo Testamento, o que foi dito em Génesis 2:24, foi confirmada a sua validade e autoridade em Mateus 19: 4 e 5, o que foi dito em Êxodo 3:6, foi também mencionado em Marcos 12:26, estes são alguns exemplos básicos que asseguram a confiabilidade da Bíblia
            A Bíblia protestante segue a ordem da Vulgata Latina, mas em questão de conteúdo segue o texto masorético.




domingo, 8 de março de 2015

Cânon do Antigo Testamento

            
            O Antigo Testamento foi formado em um período aproximado de 1.500 anos.
            O cânon do Antigo Testamento, como o aceitam os protestantes, é a Bíblia hebreia. De acordo com a distribuição actual, consiste em 39 livros. Em tempos de Jesus o cânon estava organizado em 24 livros, divididos em três partes: Lei, Profetas e Escritos.
            As divisões fundamentam-se na erudição judia da Idade Média, que havia mantido que as três secções representam três graus de inspiração: a Torá foi dada directamente por Deus. Os profetas possuíam o “ espírito de profecia” e os Escritos foram inspirados pelo Espírito Santo. Esta posição é insustentável, porque Jesus quando veio à Terra, usou as três secções como se tivessem o mesmo valor:


E disse-lhes Jesus: são estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: que convinha que se cumprisse, tudo o que de mim estava escrito, na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.[1]


Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir e instruir com justiça.


            Estas secções existem, devido a diferença de conteúdo, posição oficial ou status dos escritores bíblicos. Em primeiro lugar está a lei, logo após as histórias e as predições e posteriormente a poesia e a sabedoria.
            A Torá não só contém leis, mas também uma grande quantidade de história e algo de profecia, os Profetas incluem uma grande percentagem de poesia e os Escritos contém livros históricos de Esdras-Neemias, Crónicas e o livro de Daniel, sendo um livro que possui um pouco da história judia, acreditam os especialistas que Daniel tinha o dom de profecia, mas não tinha o ofício profético.
            A formação do cânon foi um processo gradual. Os profetas e os Escritos se compuseram mais sincronicamente, estas duas secções diferem não só em conteúdo como também na cronologia. A Torá, os Profetas e os Escritos, já eram reconhecidos como Escrituras nos tempos de Esdras e Neemias, os profetas excepto os do pós exílio, foram aceitados como Escritura antes do exílio e a lei foi aceitada em tempos de Josué.
            O uso no Novo Testamento de términos como “as Santas Escrituras” e “Escrituras” mostra-nos que já havia uma colecção definida dos escritos sagrados, fixa e plena de autoridade:


Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam”[2]


E disseram um para o outro: porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?[3]


            As declarações de Jesus em Mateus 21:42 evidenciam o reconhecimento desta estrutura dos livros sagrados. As palavras de Jesus em relação com os mártires existentes, desde de Abel até Zacarias, também estão em harmonia com tal disposição. Cronologicamente Zacarias não foi o último homem justo assassinado, mas o seu homicídio é o último registrado na Bíblia hebraica, o livro de Crónicas é o último livro do cânon hebraico.


E o Espírito de Deus revestiu a Zacarias, filho do sacerdote Joiada, o qual se pôs em pé acima do povo e lhes disse: assim diz Deus: por que transgredis os mandamentos do Senhor de modo que não possas prosperar? Por que deixastes ao Senhor, também Ele vos deixará. E eles conspiraram contra ele, e o apedrejaram por mandado do rei, no pátio da casa do Senhor[4]


            As evidências do Novo Testamento confirmam-se pelos escritos do historiador Flávio Josefo, menciona 22 livros canónicos, constituído por Reis, Crónicas, Esdras-Neemias, Ester, Job, Daniel, Isaías, Jeremias-Lamentações, Ezequiel e os Profetas Menores e quatro hinos que relacionados com preceitos para condução da vida humana, constituído por Salmos, Cantares de Salomão, Provérbios e Eclesiastes. Um grupo de eruditos judeus confirmou este cânon no Concílio de Jamnia (séc.I dC). Embora se colocou em dúvida a canonicidade dos livros de Provérbios, Eclesiastes, Ester e Cantares de Salomão, continuaram no cânon. Os judeus não só excluíram os livros apócrifos, mas também os Evangelhos. Outra evidência acerca do cânon no séc I aC, ocorre na Carta de Aristeas, onde é mencionado o Pentateuco como Escrituras.
            Do século II aC, temos algumas menções significativas nos escritos apócrifos. Em I Macabeos 2 menciona-se aos três hebreos e Daniel entre os heróis da fé, este facto é um indício que o livro de Daniel era considerado normativo e canónico, em I Macabeos 7:16 e 17 é introduzida uma citação de Salmos 79:2 e 3, seguido da frase “ Segundo a palavra que estava escrita”, o que revela que a canonização do livro de Salmos.
            Eclesiástico ou Sabedoria de Jesus Ben Sirá proporciona-nos evidências da existência de uma divisão tripartida da Bíblia hebraica. O Eclesiástico refere-se a dezanove dos vinte e quatro livros do cânon hebraico. Claramente menciona a disposição dos Profetas Menores como o grupo dos “doze profetas”. O “Elogio dos antepassados”, sugere que a segunda divisão do cânon continha autoridade, no século IV aC quando Alexandre, o Grande, foi para Israel, o sumo sacerdote saiu a recebê-lo e convenceu-o a não destruir a cidade, nesta ocasião foi-lhe mostrado as profecias referente a ele, relatadas no livro de Daniel, esta é mais uma prova de que consideravam o Pentateuco como Escritura canónica, evidência disso é a reverência, quando se desenrolam os manuscritos. A tradição assinala a colecção dos livros sagrados, a fixação do cânon hebraico de Esdras e Neemias, em II Macabeos menciona-se as memórias do tempo de Neemias, que fundou uma biblioteca, reuniu os livros referentes aos reis e aos profetas. Josefo também menciona que no tempo de Esdras e Neemias, os escritos já não tinham o mesmo valor “pois já não há uma sucessão exacta dos profetas”.
            A datação do livro de Daniel oferece-nos uma evidência importante de que os escritos de Jeremias eram reconhecidos com a mesma autoridade que o Pentateuco:


No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos que falara o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de cumprir-se as desolações de Jerusalém, era de setenta anos. Como está escrito na lei de Moisés, todo este mal nos sobreveio, apesar disso, não suplicamos à face do Senhor nosso Deus, para nos convertermos das nossas iniquidades, e para nos aplicarmos à tua verdade. [5]


            Se o cânon dos profetas se cerrou no período do exílio, é fácil entender, porque Daniel não foi incluído. A data mais tardia que temos é 536 – 535 aC, provavelmente o livro tenha se completado mais tarde.
            Outra evidência importante para uma canonização pré exílica da Torá é a existência do Pentateuco Samaritano. Esta foi a única parte da Bíblia hebraica que os samaritanos aceitaram como Sagrada Escritura. O Pentateuco Samaritano mostra ligeiras variantes com respeito ao hebraico em algumas passagens, é idêntico quanto a distribuição, tamanho e conteúdo, Este facto mostra-nos que a Torá havia sido adoptada como Santa Escritura por ambas as nações, antes da separação dos povos. A ruptura entre judeus e samaritanos ocorreu depois do regresso dos judeus do exílio. Durante o exílio os livros proféticos, foram considerados parte do cânon.
           












[1] Lucas, 24:44
[2] João 5:39
[3] Lucas 24:32
[4] II Crónicas 24:20 e 21
[5] Daniel 9:2 e 13