domingo, 8 de março de 2015

Cânon do Antigo Testamento

            
            O Antigo Testamento foi formado em um período aproximado de 1.500 anos.
            O cânon do Antigo Testamento, como o aceitam os protestantes, é a Bíblia hebreia. De acordo com a distribuição actual, consiste em 39 livros. Em tempos de Jesus o cânon estava organizado em 24 livros, divididos em três partes: Lei, Profetas e Escritos.
            As divisões fundamentam-se na erudição judia da Idade Média, que havia mantido que as três secções representam três graus de inspiração: a Torá foi dada directamente por Deus. Os profetas possuíam o “ espírito de profecia” e os Escritos foram inspirados pelo Espírito Santo. Esta posição é insustentável, porque Jesus quando veio à Terra, usou as três secções como se tivessem o mesmo valor:


E disse-lhes Jesus: são estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: que convinha que se cumprisse, tudo o que de mim estava escrito, na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.[1]


Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir e instruir com justiça.


            Estas secções existem, devido a diferença de conteúdo, posição oficial ou status dos escritores bíblicos. Em primeiro lugar está a lei, logo após as histórias e as predições e posteriormente a poesia e a sabedoria.
            A Torá não só contém leis, mas também uma grande quantidade de história e algo de profecia, os Profetas incluem uma grande percentagem de poesia e os Escritos contém livros históricos de Esdras-Neemias, Crónicas e o livro de Daniel, sendo um livro que possui um pouco da história judia, acreditam os especialistas que Daniel tinha o dom de profecia, mas não tinha o ofício profético.
            A formação do cânon foi um processo gradual. Os profetas e os Escritos se compuseram mais sincronicamente, estas duas secções diferem não só em conteúdo como também na cronologia. A Torá, os Profetas e os Escritos, já eram reconhecidos como Escrituras nos tempos de Esdras e Neemias, os profetas excepto os do pós exílio, foram aceitados como Escritura antes do exílio e a lei foi aceitada em tempos de Josué.
            O uso no Novo Testamento de términos como “as Santas Escrituras” e “Escrituras” mostra-nos que já havia uma colecção definida dos escritos sagrados, fixa e plena de autoridade:


Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam”[2]


E disseram um para o outro: porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?[3]


            As declarações de Jesus em Mateus 21:42 evidenciam o reconhecimento desta estrutura dos livros sagrados. As palavras de Jesus em relação com os mártires existentes, desde de Abel até Zacarias, também estão em harmonia com tal disposição. Cronologicamente Zacarias não foi o último homem justo assassinado, mas o seu homicídio é o último registrado na Bíblia hebraica, o livro de Crónicas é o último livro do cânon hebraico.


E o Espírito de Deus revestiu a Zacarias, filho do sacerdote Joiada, o qual se pôs em pé acima do povo e lhes disse: assim diz Deus: por que transgredis os mandamentos do Senhor de modo que não possas prosperar? Por que deixastes ao Senhor, também Ele vos deixará. E eles conspiraram contra ele, e o apedrejaram por mandado do rei, no pátio da casa do Senhor[4]


            As evidências do Novo Testamento confirmam-se pelos escritos do historiador Flávio Josefo, menciona 22 livros canónicos, constituído por Reis, Crónicas, Esdras-Neemias, Ester, Job, Daniel, Isaías, Jeremias-Lamentações, Ezequiel e os Profetas Menores e quatro hinos que relacionados com preceitos para condução da vida humana, constituído por Salmos, Cantares de Salomão, Provérbios e Eclesiastes. Um grupo de eruditos judeus confirmou este cânon no Concílio de Jamnia (séc.I dC). Embora se colocou em dúvida a canonicidade dos livros de Provérbios, Eclesiastes, Ester e Cantares de Salomão, continuaram no cânon. Os judeus não só excluíram os livros apócrifos, mas também os Evangelhos. Outra evidência acerca do cânon no séc I aC, ocorre na Carta de Aristeas, onde é mencionado o Pentateuco como Escrituras.
            Do século II aC, temos algumas menções significativas nos escritos apócrifos. Em I Macabeos 2 menciona-se aos três hebreos e Daniel entre os heróis da fé, este facto é um indício que o livro de Daniel era considerado normativo e canónico, em I Macabeos 7:16 e 17 é introduzida uma citação de Salmos 79:2 e 3, seguido da frase “ Segundo a palavra que estava escrita”, o que revela que a canonização do livro de Salmos.
            Eclesiástico ou Sabedoria de Jesus Ben Sirá proporciona-nos evidências da existência de uma divisão tripartida da Bíblia hebraica. O Eclesiástico refere-se a dezanove dos vinte e quatro livros do cânon hebraico. Claramente menciona a disposição dos Profetas Menores como o grupo dos “doze profetas”. O “Elogio dos antepassados”, sugere que a segunda divisão do cânon continha autoridade, no século IV aC quando Alexandre, o Grande, foi para Israel, o sumo sacerdote saiu a recebê-lo e convenceu-o a não destruir a cidade, nesta ocasião foi-lhe mostrado as profecias referente a ele, relatadas no livro de Daniel, esta é mais uma prova de que consideravam o Pentateuco como Escritura canónica, evidência disso é a reverência, quando se desenrolam os manuscritos. A tradição assinala a colecção dos livros sagrados, a fixação do cânon hebraico de Esdras e Neemias, em II Macabeos menciona-se as memórias do tempo de Neemias, que fundou uma biblioteca, reuniu os livros referentes aos reis e aos profetas. Josefo também menciona que no tempo de Esdras e Neemias, os escritos já não tinham o mesmo valor “pois já não há uma sucessão exacta dos profetas”.
            A datação do livro de Daniel oferece-nos uma evidência importante de que os escritos de Jeremias eram reconhecidos com a mesma autoridade que o Pentateuco:


No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos que falara o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de cumprir-se as desolações de Jerusalém, era de setenta anos. Como está escrito na lei de Moisés, todo este mal nos sobreveio, apesar disso, não suplicamos à face do Senhor nosso Deus, para nos convertermos das nossas iniquidades, e para nos aplicarmos à tua verdade. [5]


            Se o cânon dos profetas se cerrou no período do exílio, é fácil entender, porque Daniel não foi incluído. A data mais tardia que temos é 536 – 535 aC, provavelmente o livro tenha se completado mais tarde.
            Outra evidência importante para uma canonização pré exílica da Torá é a existência do Pentateuco Samaritano. Esta foi a única parte da Bíblia hebraica que os samaritanos aceitaram como Sagrada Escritura. O Pentateuco Samaritano mostra ligeiras variantes com respeito ao hebraico em algumas passagens, é idêntico quanto a distribuição, tamanho e conteúdo, Este facto mostra-nos que a Torá havia sido adoptada como Santa Escritura por ambas as nações, antes da separação dos povos. A ruptura entre judeus e samaritanos ocorreu depois do regresso dos judeus do exílio. Durante o exílio os livros proféticos, foram considerados parte do cânon.
           












[1] Lucas, 24:44
[2] João 5:39
[3] Lucas 24:32
[4] II Crónicas 24:20 e 21
[5] Daniel 9:2 e 13

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