sábado, 31 de outubro de 2015

2. A Comunicação no Casal e o seu Relacionamento

A comunicação entre o casal é essencial, para que as pessoas se conheçam melhor e o relacionamento se aprofunde, chegando a um ponto que não escondem nada um do outro.
            As comunicações são muitas vezes verbal, não verbal e as vezes até através de pequenos acordos, que se tornam hábitos, devido a rotina. O casamento é um sistema de sentimentos em que o comportamento e as atitudes de cada um, tem um profundo efeito no outro. Sentimentos positivos e negativos, ambos são transmitidos de forma não-verbal e verbal.[1]
            É necessário entender o que o cônjuge quer transmitir e que a comunicação seja o mais clara possível, sem medo do que possa vir acontecer, porque o cônjuge sabe que é aceitado pelo outro cônjuge. Confiar no cônjuge e deixá-lo livre é a melhor opção em qualquer relacionamento, principalmente no casamento. A confiança no casamento se baseia em comunicação e comportamento.[2]
A comunicação dentro do casal é realizada tanto a nível consciente como inconsciente. A comunicação inconsciente é por exemplo saber quem toma banho primeiro, quem telefona e com que frequência e as vezes a linguagem não verbal também transmite informações, mas não nos apercebemos.
A comunicação consciente é realizada pela linguagem verbal e as vezes pela linguagem não verbal. A linguagem não verbal pode reforçar o que foi dito verbalmente, como também pode criar desconfiança no cônjuge, quando para conseguir alguma coisa, é feito o mesmo gesto. A relação sexual é também uma forma de linguagem não verbal em que dependendo da aproximação e dos seus vários matizes, pode transmitir, poder e quem domina, se não é permitida uma certa liberdade de quem inicia o acto sexual, deixa de ser agradável e perde toda a magia que envolve este

evento íntimo, em que se expressa o carinho e o amor de um modo especial e muito íntimo, deixando de trazer prazer e se tornando em uma luta por dominar e não deixar ser dominado. É necessário também ter cuidado com o tom de voz ao dizer certas palavras que têm significado positivo, por exemplo “querido”.
A alimentação que nos traz boas recordações da infância, das comidas preferidas e das sobremesas feitas pela mãe para a família, também pode de uma maneira verbal e não verbal, dependendo se o casal está enfrentando problemas conjugais ou não, pode transmitir domínio, perfeição e preponderância, quem cozinha pode acusar o cônjuge que faz tudo perfeito, está a horas para preparar o jantar e comer, que o outro que chega atrasado e por conseguinte está falhando.
A maneira como a pessoa se veste, pode atrair o cônjuge como pode também atrair a terceiros, existindo as duas vertentes elevando a sua auto-estima como sendo uma ameaça para o próprio relacionamento. O êxito profissional e social bem como a inteligência, seduzem e comunicam algo.
Existe também a comunicação paradóxica de duplo vínculo, que efectua quando o casal não comunica, preferindo ter um relacionamento de refúgio, encontrando comodidade e segurança e perdem os benefícios da comunicação. No início de qualquer relacionamento existe alguma intensidade na comunicação, porém se a comunicação não se aprofunda, o cônjuge não saberá a necessidade do outro, o que deixa uma situação por resolver e um conflito latente. Muchos de los problemas que hay en la pareja no surgen de lo que se ha dicho sino de lo que no se ha dicho. A la vez la magia de la comunicación en la pareja proviene de aquellas cosas, que se comunican sin necesidad de decirlas[3]

A comunicação é a chave para um casamento de êxito, ouvir o cônjuge é um factor muito importante. Para ter uma escuta activa, é necessário manter contacto visual e assumir uma postura que indique claramente que a outra pessoa tem a sua completa atenção. Existe também a escuta reflectiva que é mostrada através da empatia, ouvindo o que a pessoa diz e mostrando que a entendemos. Outra opção são as respostas abertas, que permitem desenvolver o assunto: “ A tua mãe deve ter feito alguma coisa para ter te enervado”. As respostas curtas fomentam o conflito: “ Quantas vezes eu já te disse para


você opor-se firmemente e não deixar a tua mãe interferir em nossos assuntos!” Outra alternativa é permitir que a pessoa que tem o problema o resolva sozinha, se aconselha e são mostradas as soluções, mas quem decide, qual é a melhor solução é a pessoa que tem o problema A entoação da voz também é importante[4].
O casamento não se mantém sem uma correcta comunicação, quanto mais intensa é a comunicação mais abundante em matizes é a vida do casal. Cuja profundidade não se mede pela relação sexual, embora estejamos acostumados a chamar a esta relação “íntima”. Habitualmente, a sexualidade tem lugar quando a união é ainda muito superficial ou meramente comercial. A profundidade obtém o amor e a sinceridade, que o próprio amor contém em si mesmo.
            Os padrões da comunicação são: honestidade, paciência, preocupação e disposição para comunicar. [5] Um dos principais elos de um bom talante comunicativo é a abertura até a outra pessoa. O primeiro começa quando a boa vontade, a sinceridade e os desejos de felicidade para com a outra pessoa são reais. Porque partimos do princípio que a felicidade consiste em fazer feliz a outra pessoa. Sem este passo imprescindível não se consegue uma autêntica e edificante conversação.
            O segundo elo desta corrente consiste em escolher o momento, o lugar e o modo mais adequado, para iniciar um diálogo. Se verá com bons olhos, reservar algum espaço para o convívio em comum. A distância no trato ou a frieza são inimigos acérrimos do bom diálogo. Os gestos de carinho de amor generoso têm uma sequela bastante tangível na convivência diária. A sinceridade é outro aspecto importante a ter em conta, dado que nos ajuda a evitar, qualquer obstáculo que desemboque na crueldade gratuita. A sinceridade deve fluir sem o menor esforço, como algo que brote natural desde nosso ser mas íntimo.
            O terceiro elo em nossa corrente de comunicação reside na qualidade de saber escutar e responder. Supõe um grande esforço, para nós que normalmente nos movemos em um mundo agitado, no qual, os momentos de intimidade são realmente escassos, ao longo do dia. Infere ocupar-se adequadamente dos planos e idéias do cônjuge, valorizá-los, compreendê-los e assumí-los. As respostas têm que ir

encaminhadas até a claridade, sendo isto o firme fundamento pelo qual a compreensão e a comunicação fluem de forma profunda e intensa. A serenidade tem que ser outra de nossas características, porque propicia um diálogo calmo e frutífero.[6]
            A relação conjugal para ter êxito, é necessário que as personalidades combinem e se complementem, existindo a inter-dependência, para que a inter-dependência exista existem quatro aspectos que devem ser levados em conta:
  1. Amor como sentimento, não como atracção física. A atracção física existe no início, no processo de conquista, por meio da atracção e da convivência, surge o amor como sentimento, que traz como consequência a confiança. A base de uma relação conjugal é sempre o amor como sentimento, nunca por querer algo em troca.
  2. Comunicação. Esta, é realizada ao longo do processo da relação, desde o seu início, passando pelos cinco níveis da comunicação. Quando o casal chega no último nível, pensar alto, aí se mantém, pois é impossível esconder algo do cônjuge, mesmo que a pessoa queira esconder, não consegue, porque está habituada a contar todas as coisas que lhe acontecem e tem a certeza que é aceita pelo cônjuge.
  3. Respeito. Os cônjuges devem se respeitar mutuamente, tanto à nível de bons modos, como à nível de opiniões, ideias e privacidade, se o cônjuge ama e confia, o respeito é uma consequência natural. O respeito é sinónimo de liberdade, a liberdade de um cônjuge termina, quando começa a liberdade do outro.
  4. Sonho. O sonho de construir uma vida juntos, este sonho vai se construindo de acordo que o casal avança nos níveis de comunicação, que por sua vez irá mostrar ao casal a causa da sua atracção, de estarem se apaixonando e de forma natural, irão planejar as suas vidas em comum e executá-la.[7]
Quando o relacionamento tem problemas, o primeiro aspecto a sofrer dano e a ser alterado é a comunicação, não havendo comunicação, não há pontos em comum e não se entra em acordo, que como consequência anula o amor. O amor como sentimento, é indispensável para o equilíbrio psicológico do ser humano, temos que


ser verdadeiramente amados pelo menos por uma pessoa, a falta de amor traz consigo a ênfase nos defeitos, em que se fere e se magoa o cônjuge, que por sua vez destrói o sonho de ter uma vida em comum.
      Para a comunicação ter êxito, é necessário escutar, falar suavemente, ter a certeza que entendeu bem o que foi dito pela outra pessoa, falar coisas edificantes, evitar comentários negativos ou condenatórios e admitir os erros e ter vontade para mudá-los.[8]
 No lar não pode haver desrespeito, temos que sentir-nos protegidos, o lar é o “nosso santuário”, onde anelamos estar, o melhor lugar do mundo para se estar.
Para o casal sentir-se completo e pleno, além dos itens mencionados nos apartados acima, eles têm que desenvolver a comunicação. A comunicação contém cinco níveis, segundo Jaime Kemp, em seu livro Antes de Dizer Sim – Guia para noivos e seus conselheiros.
·         Nível 0: Estão duas pessoas em um elevador e não se comunicam.
·         Nível 1: Conversa Superficial. São perguntas de ocasião, “ Está um lindo dia”, “ Bom dia”, “ você gostou do jogo?” Não há uma relação real entre as duas pessoas.
·         Nível 2: Relato dos Factos. A pessoa começa a falar da sua família por exemplo, sem dar qualquer tipo de explicação, “ o meu filho está me dando problemas”, a comunicação é um pouco superficial, mas já não se fala só de trivialidades, mas também, um pouco de pessoas achegadas a nós.
·         Nível 3: Verbalização de Ideias e Julgamentos. A pessoa começa a dizer os factos que lhe sucedem, acrescentando ideias e julgamentos dos eventos ocorridos.
·         Nível 4: Verbalização de Sentimentos e Emoções. Neste passo, já se começa a transmitir os sentimentos e emoções e a explicá-los, nesta fase a comunicação é honesta e começa a se abrir cada vez mais.
·         Nível 5: Relacionamento Transparente, o que chamamos de pensar em voz alta, o casal chega neste nível, quando eles sabem que o seu cônjuge, o aceita como ele é, não o julga por suas opiniões, ideias, raciocínios, gostos etc, porque ambos sabem que existe compreensão e respeito, se diz o que se necessita, o que se sente e o que se quer, sem medo. Neste nível, como nos níveis anteriores existe a sinceridade, que vai aumentando com o avanço dos níveis, nesta etapa o cônjuge não consegue esconder nada do outro cônjuge, porque é uma necessidade contar tudo que lhe aconteceu.[9]
A comunicação é afectada segundo a maneira de ser de cada pessoa, e do seu passado. Uma infância que prima a comunicação com os pais ou responsáveis de educação, faz a pessoa ser mais confiante na comunicação com as outras pessoas e na resolução de problemas, pois os problemas se resolvem baseados em uma comunicação bem efectuada.[10] Se um dos cônjuges tem complexo de inferioridade, terá auto-estima baixa e evitará fazer comentários ou expressar sentimentos. Gritos, violência, e silêncio, dificultam a comunicação entre o casal. O silêncio normalmente representa uma resposta negativa e por vezes que o que foi dito, não teve importância.
É necessário permitir que o cônjuge termine o que quer dizer, para que finalize o seu pensamento e a sua ideia de raciocínio, para não existir maus entendidos.




[1] SELF, Carolyn Shealy et William L. Self.  Op. Cit, p. 39
[2] Ibid, p. 42
[3] MORFA, José Díaz. Prevención de los Conflictos de la Pareja, Bilbao: Desclée de Brouwer, 2003, p.119
[4] GRUNLAN, Stephen A. Marriage and the Family – A Christian Perspective, Michigan: Zondervan, 1984, 205
[5] Ibid, p. 202
[6] PÉREZ, Rufo González. Nos Casamos en la Fe Cristiana, Salamanca: Sígueme, 2000, p. 40
[7] Segundo comunicação pessoal com pastor Antonio Martínez, sobre Relações Familiares
[8] ELDREDGE, Robert Sir. Can Divorced Christians Remarry?, Michigan: Zondervan, 2002, p. 74
[9] KEMP, Jaime. Antes de Dizer Sim – Guia para noivos e seus conselheiros, Editora São Paulo, Brasil: Mundo Cristão, 2004, p.64
[10] Ibid. p. 65

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