A comunicação entre o casal é essencial, para que
as pessoas se conheçam melhor e o relacionamento se aprofunde, chegando a um
ponto que não escondem nada um do outro.
As comunicações são muitas vezes verbal, não verbal e as
vezes até através de pequenos acordos, que se tornam hábitos, devido a rotina. “O casamento é um sistema de sentimentos em
que o comportamento e as atitudes de cada um, tem um profundo efeito no outro.
Sentimentos positivos e negativos, ambos são transmitidos de forma não-verbal e
verbal.”[1]
É necessário entender o que o
cônjuge quer transmitir e que a comunicação seja o mais clara possível, sem
medo do que possa vir acontecer, porque o cônjuge sabe que é aceitado pelo
outro cônjuge. Confiar no cônjuge e deixá-lo livre é a melhor opção em qualquer
relacionamento, principalmente no casamento. A confiança no casamento se baseia
em comunicação e comportamento.[2]
A comunicação dentro do casal é
realizada tanto a nível consciente como inconsciente. A comunicação
inconsciente é por exemplo saber quem toma banho primeiro, quem telefona e com
que frequência e as vezes a linguagem não verbal também transmite informações,
mas não nos apercebemos.
A comunicação consciente é realizada
pela linguagem verbal e as vezes pela linguagem não verbal. A linguagem não
verbal pode reforçar o que foi dito verbalmente, como também pode criar
desconfiança no cônjuge, quando para conseguir alguma coisa, é feito o mesmo
gesto. A relação sexual é também uma forma de linguagem não verbal em que
dependendo da aproximação e dos seus vários matizes, pode transmitir, poder e
quem domina, se não é permitida uma certa liberdade de quem inicia o acto
sexual, deixa de ser agradável e perde toda a magia que envolve este
evento íntimo, em que se expressa o
carinho e o amor de um modo especial e muito íntimo, deixando de trazer prazer
e se tornando em uma luta por dominar e não deixar ser dominado. É necessário
também ter cuidado com o tom de voz ao dizer certas palavras que têm
significado positivo, por exemplo “querido”.
A alimentação que nos traz boas
recordações da infância, das comidas preferidas e das sobremesas feitas pela
mãe para a família, também pode de uma maneira verbal e não verbal, dependendo
se o casal está enfrentando problemas conjugais ou não, pode transmitir
domínio, perfeição e preponderância, quem cozinha pode acusar o cônjuge que faz
tudo perfeito, está a horas para preparar o jantar e comer, que o outro que
chega atrasado e por conseguinte está falhando.
A maneira como a pessoa se veste, pode
atrair o cônjuge como pode também atrair a terceiros, existindo as duas
vertentes elevando a sua auto-estima como sendo uma ameaça para o próprio
relacionamento. O êxito profissional e social bem como a inteligência, seduzem
e comunicam algo.
Existe também a comunicação paradóxica
de duplo vínculo, que efectua quando o casal não comunica, preferindo ter um
relacionamento de refúgio, encontrando comodidade e segurança e perdem os
benefícios da comunicação. No início de qualquer relacionamento existe alguma
intensidade na comunicação, porém se a comunicação não se aprofunda, o cônjuge
não saberá a necessidade do outro, o que deixa uma situação por resolver e um
conflito latente. “Muchos de los problemas que hay en
la pareja no surgen de lo que se ha dicho sino de lo que no se ha dicho. A la vez la magia de la
comunicación en la pareja proviene de aquellas cosas, que se comunican sin
necesidad de decirlas”[3]
A comunicação é a chave para um
casamento de êxito, ouvir o cônjuge é um factor muito importante. Para ter uma
escuta activa, é necessário manter contacto visual e assumir uma postura que
indique claramente que a outra pessoa tem a sua completa atenção. Existe também
a escuta reflectiva que é mostrada através da empatia, ouvindo o que a pessoa
diz e mostrando que a entendemos. Outra opção são as respostas abertas, que
permitem desenvolver o assunto: “ A tua mãe deve ter feito alguma coisa para
ter te enervado”. As respostas curtas fomentam o conflito: “ Quantas vezes eu
já te disse para
você opor-se firmemente e não deixar a tua mãe
interferir em nossos assuntos!” Outra alternativa é permitir que a pessoa que tem
o problema o resolva sozinha, se aconselha e são mostradas as soluções, mas
quem decide, qual é a melhor solução é a pessoa que tem o problema A entoação
da voz também é importante[4].
O casamento não se mantém sem uma
correcta comunicação, quanto mais intensa é a comunicação mais abundante em
matizes é a vida do casal. Cuja profundidade não se mede pela relação sexual,
embora estejamos acostumados a chamar a esta relação “íntima”. Habitualmente, a
sexualidade tem lugar quando a união é ainda muito superficial ou meramente
comercial. A profundidade obtém o amor e a sinceridade, que o próprio amor
contém em si mesmo.
Os
padrões da comunicação são: honestidade, paciência, preocupação e disposição
para comunicar. [5] Um dos principais elos de
um bom talante comunicativo é a abertura
até a outra pessoa. O primeiro começa quando a boa vontade, a sinceridade e
os desejos de felicidade para com a outra pessoa são reais. Porque partimos do
princípio que a felicidade consiste em fazer feliz a outra pessoa. Sem este passo
imprescindível não se consegue uma autêntica e edificante conversação.
O
segundo elo desta corrente consiste em escolher o momento, o lugar e o modo
mais adequado, para iniciar um diálogo.
Se verá com bons olhos, reservar algum espaço para o convívio em comum. A
distância no trato ou a frieza são inimigos acérrimos do bom diálogo. Os gestos
de carinho de amor generoso têm uma sequela bastante tangível na convivência
diária. A sinceridade é outro aspecto importante a ter em conta, dado que nos
ajuda a evitar, qualquer obstáculo que desemboque na crueldade gratuita. A
sinceridade deve fluir sem o menor esforço, como algo que brote natural desde nosso
ser mas íntimo.
O
terceiro elo em nossa corrente de comunicação reside na qualidade de saber escutar e responder. Supõe um
grande esforço, para nós que normalmente nos movemos em um mundo agitado, no
qual, os momentos de intimidade são realmente escassos, ao longo do dia. Infere
ocupar-se adequadamente dos planos e idéias do cônjuge, valorizá-los, compreendê-los
e assumí-los. As respostas têm que ir
encaminhadas até a claridade, sendo isto o firme
fundamento pelo qual a compreensão e a comunicação fluem de forma profunda e
intensa. A serenidade tem que ser outra de nossas características, porque
propicia um diálogo calmo e frutífero.[6]
A
relação conjugal para ter êxito, é necessário que as personalidades combinem e
se complementem, existindo a inter-dependência, para que a inter-dependência
exista existem quatro aspectos que devem ser levados em conta:
- Amor como
sentimento, não como atracção física. A atracção física existe no início,
no processo de conquista, por meio da atracção e da convivência, surge o
amor como sentimento, que traz como consequência a confiança. A base de
uma relação conjugal é sempre o amor como sentimento, nunca por querer
algo em troca.
- Comunicação.
Esta, é realizada ao longo do processo da relação, desde o seu início,
passando pelos cinco níveis da comunicação. Quando o casal chega no último
nível, pensar alto, aí se mantém, pois é impossível esconder algo do
cônjuge, mesmo que a pessoa queira esconder, não consegue, porque está
habituada a contar todas as coisas que lhe acontecem e tem a certeza que é
aceita pelo cônjuge.
- Respeito. Os
cônjuges devem se respeitar mutuamente, tanto à nível de bons modos, como
à nível de opiniões, ideias e privacidade, se o cônjuge ama e confia, o
respeito é uma consequência natural. O respeito é sinónimo de liberdade, a
liberdade de um cônjuge termina, quando começa a liberdade do outro.
- Sonho. O sonho
de construir uma vida juntos, este sonho vai se construindo de acordo que
o casal avança nos níveis de comunicação, que por sua vez irá mostrar ao
casal a causa da sua atracção, de estarem se apaixonando e de forma
natural, irão planejar as suas vidas em comum e executá-la.[7]
Quando o relacionamento tem problemas,
o primeiro aspecto a sofrer dano e a ser alterado é a comunicação, não havendo
comunicação, não há pontos em comum e não se entra em acordo, que como
consequência anula o amor. O amor como sentimento, é indispensável para o
equilíbrio psicológico do ser humano, temos que
ser verdadeiramente amados pelo menos
por uma pessoa, a falta de amor traz consigo a ênfase nos defeitos, em que se
fere e se magoa o cônjuge, que por sua vez destrói o sonho de ter uma vida em
comum.
Para
a comunicação ter êxito, é necessário escutar, falar suavemente, ter a certeza
que entendeu bem o que foi dito pela outra pessoa, falar coisas edificantes,
evitar comentários negativos ou condenatórios e admitir os erros e ter vontade
para mudá-los.[8]
No lar não pode haver desrespeito, temos que
sentir-nos protegidos, o lar é o “nosso santuário”, onde anelamos estar, o
melhor lugar do mundo para se estar.
Para o casal
sentir-se completo e pleno, além dos itens mencionados nos apartados acima,
eles têm que desenvolver a comunicação. A comunicação contém cinco níveis,
segundo Jaime Kemp, em seu livro Antes de Dizer Sim – Guia para noivos e seus
conselheiros.
·
Nível 0: Estão duas pessoas em um elevador e não se comunicam.
·
Nível 1: Conversa Superficial. São perguntas de ocasião, “ Está um lindo
dia”, “ Bom dia”, “ você gostou do jogo?” Não há uma relação real entre as duas
pessoas.
·
Nível 2: Relato dos Factos. A pessoa começa a falar da sua família por
exemplo, sem dar qualquer tipo de explicação, “ o meu filho está me dando
problemas”, a comunicação é um pouco superficial, mas já não se fala só de
trivialidades, mas também, um pouco de pessoas achegadas a nós.
·
Nível 3: Verbalização de Ideias e Julgamentos. A pessoa começa a dizer os
factos que lhe sucedem, acrescentando ideias e julgamentos dos eventos
ocorridos.
·
Nível 4: Verbalização de Sentimentos e Emoções. Neste passo, já se começa
a transmitir os sentimentos e emoções e a explicá-los, nesta fase a comunicação
é honesta e começa a se abrir cada vez mais.
·
Nível 5: Relacionamento Transparente, o que chamamos de pensar em voz
alta, o casal chega neste nível, quando eles sabem que o seu cônjuge, o aceita
como ele é, não o julga por suas opiniões, ideias, raciocínios, gostos etc, porque
ambos sabem que existe compreensão e respeito, se diz o que se necessita, o que
se sente e o que se quer, sem medo. Neste nível, como nos níveis anteriores
existe a sinceridade, que vai aumentando com o avanço dos níveis, nesta etapa o
cônjuge não consegue esconder nada do outro cônjuge, porque é uma necessidade
contar tudo que lhe aconteceu.[9]
A comunicação é afectada segundo a maneira de ser de cada pessoa, e do
seu passado. Uma infância que prima a comunicação com os pais ou responsáveis
de educação, faz a pessoa ser mais confiante na comunicação com as outras
pessoas e na resolução de problemas, pois os problemas se resolvem baseados em
uma comunicação bem efectuada.[10]
Se um dos cônjuges tem complexo de inferioridade, terá auto-estima baixa e
evitará fazer comentários ou expressar sentimentos. Gritos, violência, e
silêncio, dificultam a comunicação entre o casal. O silêncio normalmente
representa uma resposta negativa e por vezes que o que foi dito, não teve
importância.
É necessário permitir que o cônjuge termine o que quer dizer, para que
finalize o seu pensamento e a sua ideia de raciocínio, para não existir maus
entendidos.
[3] MORFA, José Díaz. Prevención de los Conflictos
de la Pareja, Bilbao: Desclée de Brouwer, 2003, p.119
[4] GRUNLAN, Stephen A. Marriage and the Family – A Christian Perspective, Michigan : Zondervan,
1984, 205
[6] PÉREZ, Rufo González. Nos
Casamos en la Fe Cristiana, Salamanca: Sígueme, 2000, p. 40
[7] Segundo comunicação pessoal com pastor Antonio
Martínez, sobre Relações Familiares
[9] KEMP, Jaime. Antes
de Dizer Sim – Guia para noivos e seus conselheiros, Editora São Paulo,
Brasil: Mundo Cristão, 2004, p.64