domingo, 13 de dezembro de 2015

Parte II - O processo de divórcio e a Bíblia

Para a reforma protestante, o divórcio é permitido, com o direito de casar-se novamente quando é causado por adultério, abandono ou recusa do dever conjugal. O casamento, é um acordo, não é um sacramento. O casamento pode se dissolver. O casamento não é inferior ao celibato[1]
A permissão de casar-se novamente é permitida se existe imoralidade sexual antes do divórcio ou após o mesmo, ou ruptura dos votos matrimoniais.
Na mentalidade bíblica e judaicas os votos matrimoniais são aspectos importantes, que constituem o compromisso entre o casal, porque trata da convivência entre o casal, se os aspectos da convivência não estão bem e existe a ruptura dos votos matrimoniais, isto se torna em base para divorciar-se, porque o compromisso está começando a ser quebrado por alguma razão. Ambos podem ser ocasionadores da ruptura dos votos matrimoniais. Os rabinos tinham limites estabelecidos para delimitar o que era ou não, a ruptura dos votos matrimoniais. Enquanto que na mentalidade greco-romana, lhes importava mais, não o facto de divorciar-se ou não, que isso dependia da vontade do casal, mas a situação económica que o marido divorciado deveria prover para a ex-esposa e seus filhos.[2]
Ao contrário de algumas opiniões o divórcio é um conceito bíblico. A Bíblia reconhece e regula o divórcio. Convém que a igreja aplique aos casos reais de divórcio os princípios que existem nas Escrituras à respeito.
            Em uma leitura superficial do que diz a Bíblia à respeito do divórcio, ficamos com a impressão de que esta o condena e denuncia. Podemos pensar que as Escrituras não dizem nada de positivo sobre o divórcio. A Bíblia não guarda silêncio sobre o tema do divórcio, e nem sempre condena o divórcio.
            Se Deus em uma época se divorciou de Israel, é um erro condenar o divórcio somente porque foi concretizada uma separação, o divórcio pode não ser o ideal de Deus, mas pode ser uma solução viável para terminar com o sofrimento.
            É importante desenvolver uma atitude bíblica equilibrada sobre o divórcio, No caso de Esdras, reconhece-se que o próprio Deus demonstrou que pode ser necessário divorciar-se.[3]
            Os que obtêm um divórcio não devem ser excusados pelo facto que cometeram um pecado. Deus perdoa o facto de divorciar-se, Porém a vida da pessoa fica marcada, fazendo parte de um aprendizado, e sendo a pessoa lavada no sangue de Cristo. O conceito de divórcio, na altura dos apóstolos era diferente do conceito que hoje temos. É necessário termos cautela quando tratamos deste assunto, pois muitas pessoas indirectamente sofrem as consequências deste evento. O divórcio é perdoado tal como se perdoa os alcoólatras e homossexuais arrependidos como é citado em 1Cor. 6,9-11.
            Quando Jesus mencionou o pecado imperdoável, assegurou de que todos os outros pecados são perdoáveis,[4] e como o divórcio pertence a esta categoria, chegamos à conclusão de que também é perdoável. O único pecado imperdoável é aquele que atenta contra o Espírito Santo. Se o divórcio é perdoado por Deus, deve também ser perdoado pela igreja e por seus membros.


            As palavras de Jesus sobre o divórcio contribuem para esta conclusão. Em vez de falar do divórcio como parte da ordem de Deus, Jesus reconhece que constitui uma mudança, porque não foi assim desde o princípio, é referido que foi permitido devido a dureza do coração dos judeus, que Moisés permitiu o divórcio.[5] Moisés permitiu o divórcio, para que os ideais do Éden e de uma sociedade sem pecado permanecessem, e que as pessoas praticassem a monogamia.[6] O facto de que Deus não estabelecesse o divórcio é uma razão pela qual a igreja teve problemas na consideração da sua prática.
            O divórcio aparece primeiro nos anais bíblicos como uma prática bem desenvolvida indicando que já estava bem estabelecido e era conhecido. Existe um vocabulário técnico para carta de divórcio e também existe um processo passo a passo, por meio do qual pode ser obtido. O divórcio no Antigo Testamento é mencionado de várias formas[7]. Sobre o qual Deus através de Moisés exerceu uma função reguladora[8] Devido a que Moisés regulamentou o divórcio, não o proibiu directamente, Jesus confirma que Moisés o permitiu. O divórcio, já era uma prática comum. Quando Moisés escreveu o Pentateuco e deu suas leis ao povo.
            Se Moisés permitiu o divórcio, regulamentando-o, não proibindo-o, não se deve ter a idéia de que Deus meramente deixou passar o divórcio. Deus não omitiu o caso nem o denuncia como prática, porém por sua vez, leva em conta a existência e faz algo sobre o mesmo:
  • Para assegurar-se que está permitido sob determinadas circunstâncias somente, e não sob outras.[9]
  • Quando se realize, faça-se com ordem.
·        Os que obtêm um divórcio sabem quais são suas possíveis consequências.[10] É sem dúvida, correcto dizer que nas Escrituras Deus reconhece a existência do divórcio e o regula cuidadosamente. Nossa posição, tem que ser a mesma. Nem temos que fingir que o divórcio não existe, muito menos censurá-lo simplesmente, os dirigentes e

responsáveis, temos de procurar também regulá-lo, segundo o princípio apresentado na Bíblia.



[1] ELDREDGE, Robert Sir. Op. Cit, p. 114
[2] BREWER, David Instone. Divorce and Remarriage in the Bible – The Social and Literary Context, Michigan: Grand Rapids, 2002, p. 213 e 216
[3] Ver Esdras 10,2.3.11.19. Estas passagens esclarecem que foi feito um pacto com Deus para divorciar das esposas estrangeiras, visto que os dirigentes governamentais denunciaram a teoria que pregavam, do estilo de vida que levavam. Cento e treze divórcios tiveram lugar como resultado do arrependimento para honrar a Deus. Sem dúvida, os divórcios não são maus, porque todos os divórcios são ocasionados pelo pecado.
[4] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada, São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1995, Mateus 12,31

[5] ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada, São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, 1995, Mt 19,8
[6]BREWER, David Instone. Divorce and Remarriage in the Bible – The Social and Literary Context, Michigan: Grand Rapids, 2002, p. 173
[7]ALMEIDA, João Ferreira de. Op. Cit, Lv. 21,7.14; 22,13; Nm. 30,9; Dt. 22,19. 29; 24,1-4; Is. 50,1; Jr. 3,1-8; Ez. 44,32; Mal. 2,14.16.
[8] Ibid Dt. 22,19. 29; 24,1-4
[9] Ibid, Dt. 22,19, 29
[10] Ibid, Dt. 24,1-4

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